Descortina-se em nossas vidas, uma fantástica imagem de um mundo antigo que atua no cotidiano como se fosse um filme cheio de viagens, constâncias e permanências. Seu enredo contém atributos que revivificam, reinventam os saberes e práticas ancestrais, profundamente ameaçados pelos fantasmas do esquecimento, típicos da sociedade pós-moderna, que traz complexos comportamentos, mas não vislumbra horizontes promissores, tal o bloqueio da marcha evolutiva da civilização humana.
Surpreendente mundo que, ao agasalhar-se em sutis transformações, vai impondo seu ritmo, definindo características, delimitando dimensões e possibilitando aos homens, criar, reproduzir, agir, estabelecer relações em universos restritos e fragmentados que compõem a cultura em suas singulares belezas e unicidades. O folclore é um codificador de identidade, de reprodução de símbolos que contemplam um modo de vida de classe, a existência dos saberes e dos fazeres que habilitam a maestria dos seus agentes, a partir do domínio da integralidade dos elementos que o compõem.
São aspectos técnicos que, embora fundamentais ao rigor metodológico da ciência, escapa ao interesse daqueles que o veem sob óticas diversas. Olhares que apelam para os sentidos, fertilidade dos simbolismos e imaginação, em que nos sentimos representantes e representados. Somos, sem exceções, protagonistas de histórias fragmentadas, mas inteligíveis, porque, agraciados pelo encanto, magia e misticismo, das manifestações folclóricas, participamos de ricas experiências, oriundas desse mundo antigo, quase esquecido, mas repleto de mitos, lendas, contos, danças, culinárias, músicas e festas religiosas de caráter popular.
Na Bahia, terra mater de nós outros privilegiados, respira-se tradição, folclore e misticismo, contidos em todos que adotam a baianidade como estilo de vida. É a Bahia do axé, que traz em si, traços singulares, legados cheios de simbolismos e alegria contagiante, fruto do entrelaçamento das culturas, indígenas, europeias e africanas. Resultando dessa mistura, um caldo especial: o jeito baiano de ser. A magia de sua arte, músicas, festas de largo, louvores, mercados populares, rodas de samba, capoeira e terreiros de candomblés, estão a todo momento a nos lembrar que suas existências, só puderam ser possíveis, a partir daquelas contribuições históricas.
Por se constituir em tema vasto, o Folclore, não pode ser abarcado de uma só vez, pois, amplo é seu espectro e movediço seria o terreno se houvesse tentativas de esgotá-lo em seu aspecto amplo. Daí a cautela, a fim de evitar erros desnecessários e, manter-se na estrada principal, visando o objetivo proposto, mesmo resistindo à tentação de parar para saborear os contos e cantos, as lendas e mitos e, embalados por belas cantigas de ninar, continuamos nossa viagem em direção horizontes inexplorados. Sem ele, nossas vidas seriam desprovidas de graça e profundidade. Que possamos vivenciar e respirar folclore todos os dias de nossa experiência terrena.
Airton Santos
Fotos (Laurocriativa)
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